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Altos vôos

Atualizado: 6 de nov. de 2022


Estou aqui aguardando o embarque em um vôo que já está atrasado mais de 1 hora. O aeroporto de Curitiba está fechado por falta de visibilidade. Engraçado como a única área sem visibilidade na cidade é exatamente a área do aeroporto.

Só pode que o tal Murphi deve ter participado do processo de escolha do local deste aeroporto.

A sala de espera está uma loucura, com pessoas amontoadas, olhando ao redor, sem nada o que fazer, além é claro de ficar reparando um nos outros. Fico imaginando que tipos de comentários passam na cabeça de cada pessoa que está aqui. Parece que até consigo ouvir as madames criticando o sapato e a vestimenta da burguesa hippie que acaba de entrar. E os altos executivos censurando a gravata rosa com terno marrom do sujeito com cavanhaque.


Mas o importante é que eles estão tentando achar alguma coisa para se distrair. Alguns, como eu, sacam seus brinquedinhos tecnológicos e põem-se a fazer a pose de que estão trabalhando. Outros não têm mesmo como disfarçar, e ficam reparando e analisando as pessoas, como por exemplo, a Senhora aqui do meu lado que tenta desesperadamente ler o que eu estou escrevendo no Notebook. Calma minha Senhora, depois eu te passo o link do Blog.


Mas há de se dar um desconto, pois tudo que envolve a questão voar não é fácil. Já se tem polêmica desde a discussão sobre quem foi o inventor da aviação e até hoje parte do mundo ainda discorda da outra parte. O fato é que não fomos feitos para voar, e conseguir este feito sempre causa reações inusitadas. Talvez seja por isto que vemos estas coisas estranhas nos aeroportos.


Já começa pelo fato de todos serem forçados a chegar com muita antecedência, com exceção (claro) do avião que quase sempre atrasa. Mas isto é só um detalhe, pois chegar com antecedência é o mínimo que podemos fazer para podermos passar a vergonha no raio-x (com aquela moeda ou chave que teima em ficar no fundo do bolso) ou assistirmos à dança dos portões de embarque em São Paulo, que sempre por reacomodação da aeronave, nunca está no portão que consta no bilhete.


Então não é de se estranhar toda esta insegurança das pessoas desde a sala de embarque, que mesmo nos dias onde não há congestionamento como hoje, as pessoas já não estão totalmente confortáveis. Prova disto são os comportamentos que veremos nas cenas dos próximos capítulos, que nem precisa ser mago para prever, pois sempre ocorrem:

Quando os auto-falantes anunciam um vôo, vejo tanta gente correndo para o embarque, que fico com a impressão que o anúncio foi de fogo no recinto, tamanha a volúpia de alguns para chegar à fila. Será que eles não sabem que existem lugares marcados? Mas não adianta… todos saem correndo.


Nos aeroportos onde o transporte até os aviões é feito por ônibus (caso de São Paulo), a correria na fila se justifica ainda menos, pois os últimos a entrarem no ônibus serão os primeiros a sair do ônibus e por conseqüência os primeiros a entrar na aeronave. Dá para entender?!! Para aeroportos com “fingers”, o acesso à aeronave é mais tranqüilo, mas sempre existe aquela fila na entrada da porta do avião. Mais uma vez me pergunto. Porque sair correndo daquele modo? Eu deveria chegar à conclusão que devem ser todos loucos por avião e querem logo experimentar esta sensação de voar.


Dentro da aeronave, começa o verdadeiro empurra-empurra para que todos se acomodem. Depois de alguns acertos e discussões, provando que alguns realmente não sabem diferenciar letras ou números nos assentos, começam as instruções da equipe de bordo. O que para muitos é corriqueiro, para outros a novidade das informações pode chocar, já que para alguém que nunca decolou, ficar sabendo que mascaras de oxigênio cairão do teto em caso de descompressão, pode aumentar ainda mais a insegurança. Verdade seja dita que alguns colegas maldosos (como eu) podem ter convencido alguém que está voando pela primeira vez, de que este tipo de demonstrações e orientações apenas acontecem em vôos de MUUUITO risco, o que certamente deixa este passageiro ainda mais assustado. Mas brincadeiras com novatos são normais, e aquelas recomendações de não se abrir a janela para não jogar vento das fileiras de trás, ou orientações para que o novato pegue recibo do consumo no avião, para futuro reembolso, já não são tão usuais assim. As pessoas já sabem o que esperar de um vôo e a cada dia aumenta o número de usuários da aviação.


Durante o vôo, tudo se acalma e as comissárias começam a servir as bebidas e lanches.

Alguns aproveitam a platéia cativa que, diga-se de passagem, não tem como sair do recinto, começam a mostrar seus dotes, seja de apresentador de suas idéias, falando alto, ou de galanteador das comissárias. Estes últimos esquecem que estão lidando com profissionais que aturam sujeitos assim o tempo todo. Lembro daquele sujeito que ao ser tratado de “Senhor” fala a célebre frase para a comissária: “SENHOR está no céu minha querida”. E ela com toda a educação responde: “E estamos aonde agora Senhor?”.


Mas se estas pessoas gostam tanto de voar e gostam do show abordo, não entendo o porquê que ao chegar ao seu destino, nem esperam o avião estacionar direito e já soltam os cintos de forma frenética e se põem de pé, com os pescoços tortos e a cabeça encostando no maleiro acima. E claro, ficam assim tensos por vários minutos.

Quando a porta da aeronave é finalmente aberta, tem-se uma nova correria e empurra-empurra. Todos agora alucinados para sair o mais rápido possível.


O pior de tudo é que a maioria ainda vai ficar em pé lá fora, esperando longos minutos pela bagagem.


Então…, não disse que voar não é fácil??!  Mas o mais difícil é entender porque todos agem assim.

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